Entrevista

Isabela Andrade faz balanço positivo da gestão à frente da UFPel

Reitora relembra nomeação polêmica e exalta ações desenvolvidas nos últimos quatro anos dentro da Universidade

Jô Folha - DP - Ciclo de Isabela Andrade frente à UFPel se encerra em dezembro

Por Heitor Araujo

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Em janeiro de 2021, alunos, técnicos e docentes da Universidade Federal de ​Pelotas (UFPel) receberam com surpresa a nomeação de Isabela Andrade como reitora. Pelo processo democrático da Universidade, o reitor escolhido havia sido Paulo Ferreira Júnior, do mesmo grupo de Andrade. A negativa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao pleito quebrou o retrospecto recente de adesão do governo federal à vontade da comunidade acadêmica.

Passados três anos de uma gestão compartilhada, Isabela Andrade chega à reta final de sua gestão à frente da UFPel. A reitora avalia que grande parte do prometido em campanha pelo grupo foi cumprido, exalta o avanço do projeto do novo Hospital Escola, que deve ser entregue em 2027, e projeta conquistar mais recursos para a UFPel junto ao governo federal ainda neste ano. Confira abaixo como foi a conversa:

Chegando ao último ano de gestão, qual a sua avaliação sobre o que foi feito na Universidade?

A gente teve uma série de avanços na UFPel ao longo destes três anos, principalmente analisando a situação orçamentária da Instituição. Ações que dependiam mais de movimentos do que de recursos financeiros foram implementadas.

Qual será o principal legado deixado por esta gestão à Universidade?

Certamente é o recurso assegurado para a construção da sede própria do Hospital Escola, que amplia o número de leitos significativamente e, principalmente, proporciona um hospital com ambientes destinados às atividades de ensino, pesquisa, extensão e inovação. Há mais de 30 anos falava-se neste hospital com sede própria e até o momento não havia se consolidado. Na gestão anterior, do professor Pedro [Hallal, ex-reitor], tivemos a elaboração do projeto e a partir dele a gente trabalhou arduamente neste recurso, previsto pelo PAC, na ordem de R$ 265 milhões.

Sua nomeação à época foi polêmica, no sentido de uma intervenção do governo federal na Universidade. Como tu avalias esse episódio e a articulação feita pela gestão?

Foi muito difícil, um golpe muito forte para nós, principalmente a mim, ao Paulo [Ferreira Júnior, atual pró-reitor de Planejamento Estratégico] e de forma geral a toda a instituição. Na ocasião, entendemos que a troca de lugares causaria o menor impacto possível frente a toda a situação. Assumi a gestão porque o grupo, naquele momento, entendeu que era importante para que a gente garantisse o cumprimento do programa de gestão que havia sido eleito pela comunidade, e hoje mais de 80% do programa já foi cumprido.

Na época, foi dito que seria feita uma gestão compartilhada. Como isso funcionou?

Da mesma forma que seria a gestão sob a liderança do Paulo, foi a minha liderança. A gente tem uma mesa de gestão, reunião de todas as pessoas que compõem a gestão, e ali a gente toma as decisões de como vai direcionar os caminhos da Instituição.

Como foi enfrentar a retomada das atividades após a Covid-19, que ainda impacta o calendário da Universidade?

A Universidade teve um papel fundamental durante todo o enfrentamento à pandemia. Criamos um laboratório para fazer os testes Covid, depois um ambulatório pós-Covid e ainda um sistema organizado para que pudéssemos retomar as atividades letivas. Entendemos a organização do calendário como algo participativo, pela primeira vez abrimos uma consulta pública para que a comunidade apontasse qual seria a melhor forma de recuperar este período. Na próxima semana, finalizaremos o semestre 2023/2 e teremos mais dois semestres neste ano, para regularizar o calendário acadêmico da Instituição.

Na tua avaliação, deu certo essa proposta de calendário? Tens uma avaliação positiva?

Deu certo, a gente conseguiu cumprir as atividades. Não é uma questão de ser positiva ou negativa [a avaliação], era o que a gente teria menor impacto sobre as atividades da Instituição. Essa regularização é imprescindível para a formação dos estudantes, que querem ter o seu diploma para poder desenvolver a sua profissão.

Foram muitos os cortes de verba nas universidades federais nos últimos anos. Qual sua avaliação sobre os ajustes orçamentários que tiveram que ser feitos neste período?

Tivemos muitas dificuldades, terminamos o ano passado mais uma vez deficitários, mas reduzimos a previsão de déficit que tínhamos, com uma série de enxugamentos feitos ao longo de 2023. Já foi bem melhor do que em 2022, quando tínhamos uma série de limitações impostas. Temos trabalhado forte junto ao governo federal por uma suplementação orçamentária, porque o orçamento aprovado de 2024 garante o funcionamento de todas as universidades públicas brasileiras até meados de setembro. A gente planeja entregar a Universidade até o fim de 2024 com todas as contas em dia.

São oito anos de gestão do mesmo grupo na Universidade. Como tu notas a resposta da comunidade acadêmica e qual tua expectativa em relação à continuidade a este modelo?

Os primeiros quatro anos de gestão garantiram a eleição do novo grupo, porque por mais que seja continuidade, a gente teve uma renovação de pessoas. Tivemos um trabalho muito importante e impactante, porque passamos por todo o contexto de pandemia, de um governo federal que não tinha um olhar pelas universidades públicas e nós não tínhamos abertura para diálogo. Enxergo que a gente ainda tem um futuro muito grande de ações para desenvolver pela Universidade.

Para finalizar, qual a perspectiva deste ano dentro da Universidade?

Já começamos esse movimento de sede própria do HE. Temos firmado uma série de TEDs [Termos de Execução Descentralizada] com o governo federal, dois recentemente com o Iphan, para restauro das obras danificadas no oito de janeiro, pelo curso de Conservação e Restauração, e de trabalho nas missões jesuíticas, pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Temos trabalho na turma especial de medicina pelo Pronera, uma comissão que pensa no projeto pedagógico, assim como já acontece com a turma de Medicina Veterinária. Instituímos, no ano passado, uma comissão de memória e justiça, que culminou na revogação de títulos concedidos na ditadura militar. Agora, em março, instituirei a comissão da verdade no âmbito da Universidade para que a gente possa considerar outras situações que aconteceram naquele período. Fomos incitados pela Secretaria de Educação Superior [vinculada ao Ministério da Educação] para apontar as demandas da Universidade, estamos com grande expectativa do anúncio ainda em março de recursos do PAC para diversas obras. Temos previsão de conclusão da reforma do Grande Hotel até o fim deste ano e estamos concluindo a obra do Teatro e Dança, que vai ter um significado muito grande para o Centro de Artes e deve inaugurar no semestre 2024/1.


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